segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

A força do voto evangélico nas eleições de 2018 em Pernambuco

Imagem: Reprodução

A representatividade dos diversos segmentos da sociedade é um dos alicerces da democracia. Neste cenário, o nicho evangélico tem apresentado crescimento e potencial para aumentar a sua já considerável relevância política. Para 2018, a projeção – baseada no crescimento demográfico do IBGE – é que o Brasil tenha aproximadamente 55 milhões de evangélicos, dos quais, 38,6 milhões seriam eleitores – número equivalente, por exemplo, a 70% dos votos recebidos pela presidente afastada Dilma Rousseff (PT) quando eleita em 2014.

Trazendo os números para Pernambuco, em 2018 serão pouco mais de 1,6 milhão de eleitores evangélicos, que representariam 53,3% dos votos recebidos pelo governador Paulo Câmara (PSB) em 2014 e 61,5% do número obtido pelo senador eleito Fernando Bezerra Coelho (PSB).

Em outras palavras, em um cenário de aglutinação e convergência na hora do voto, as diversas denominações evangélicas podem vir a definir a representação política dos estados e do país.Projetando cenários para os cargos legislativos em 2018, as bancadas evangélicas tendem a se consolidar, com capacidade de crescimento. 

Os 38,6 milhões de votos evangélicos poderiam, por exemplo, eleger os 237 deputados mais votados da Câmara em 2014 ou os 429 menos votados da Casa, de 513 parlamentares. 

Poderiam também, aumentar significativamente a Frente Parlamentar Evangélica, hoje com oito entre os 49 deputados da Casa de Joaquim Nabuco. Isso porque o contingente eleitoral no estado equivale aos votos obtidos pelos 22 deputados estaduais mais votados – e aos 39 menos votados. E é no Legislativo, que a influência do grupo se faz mais significativa, já que nele, participa-se decisivamente da construção, aprovação e vetos de lei podendo levar em conta o ponto de vista defendido pelo segmento.

Dentre os cinco deputados estaduais mais votados nas eleições de 2014, três são evangélicos e somaram mais de 450 mil votos: Pastor Cleiton Collins, do PP (217 mil), Presbítero Adalto Santos, do PSB (159 mil) e André Ferreira, do PMDB (74 mil). Entre os federais, foram dois entre os líderes da eleição, com soma semelhante: Pastor Eurico, do PSB (233 mil) e Anderson Ferreira, do PR (150 mil). Voltando mais dois anos, nas últimas eleições municipais de 2012, a capital pernambucana colocou quatro evangélicos entre os 10 vereadores mais votados. Juntos, André Ferreira (PMDB) – deixou a Câmara em 2014 para se candidatar a deputado estadual -, Missionária Michele Collins (PP), Luiz Eustáquio (PSB) e Irmã Aimée (PSB) somaram mais de 46 mil votos.

A tendência que se acentua nas últimas eleições, com votações expressivas de políticos evangélicos, se ilustra com o exemplo de prefeituras como Jaboatão dos Guararapes e Olinda, cujos gestores são oriundos desse segmento. Na costura das chapas de oposição, fala-se em contemplar uma vaga no Senado ou na vice-governadoria com um candidato evangélico, o que projeta a influência religiosa ainda mais no debate político. Quem tiver inserção, terá mais votos.

A base eleitoral mais representativa do segmento, proporcionalmente, é Jaboatão, segundo maior município de Pernambuco. O IBGE aponta que são 202 mil cidadãos evangélicos diante de 695 mil moradores. No Recife, são 384 mil evangélicos para uma população de 1,6 milhão. Em 2014, tanto para deputado federal quanto para estadual, os “crentes” estavam entre os mais votados de Jaboatão, algo que se repetiu na eleição de 2016.

Autor do Estatuto da Família, Anderson Ferreira deixou a Câmara dos Deputados para concorrer à Prefeitura de Jaboatão em 2016. Ele se elegeu no segundo turno com 171 mil votos, o que reforçou ainda mais o capital político da sua família. Além de Anderson, o grupo ainda dispõe do deputado estadual André Ferreira (PSC), que já foi campeão de votos em 2008 e 2012 na Câmara dos Vereadores, e em 2016 ainda elegeu o cunhado Fred Ferreira (PSC) com 14 mil votos.

Para 2018, o clã planeja reabilitar Manoel Ferreira, pai de Anderson e André, para disputar uma vaga no Legislativo estadual. Ele que já foi deputado estadual por sete vezes consecutivas, representando a Assembleia de Deus.

Nos últimos meses, o prefeito Anderson Ferreira recebeu em Jaboatão os ministros de Minas e Energia, Fernando Filho (PSB), e das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), além do senador Armando Monteiro Neto (PTB). A cidade é vista como vitrine política para referendar projetos para 2018. “Tive atuação exitosa no Congresso, defendendo a família, e consegui sair do nicho, através de uma bandeira que agrada até católicos e toda a sociedade, o Estatuto da Família, que me deu condições de disputar a prefeitura”, conta Anderson.

Ele acredita que “uma chapa para o governo que não tiver um olhar para essa fatia do eleitorado pode não ter êxito”. “O grupo que apostar, inclusive numa candidatura evangélica para o Senado, terá sua chapa oxigenada. Agora não pode ser um discurso de 'despachante de igreja'. Tem que conversar com todas as denominações”, defende o prefeito. Cotado para uma vaga no Senado, André Ferreira reforça que sua família deve somar na chapa majoritária. "O segmento evangélico tem crescido, demonstrado sua força a cada eleição. Os números dizem isso", diz o deputado.

Para o prefeito de Olinda, Lupércio Nascimento (SD), havia muito preconceito com os políticos evangélicos, mas essa visão está se quebrando. “O pessoal dizia que a gente ia acabar com o Carnaval de Olinda, que só ia governar para os evangélicos, mas estamos mostrando que governamos para todos”, declara o gestor, que foi eleito deputado estadual em 2014 e venceu a disputa municipal contra Antônio Campos (Avante), irmão do ex-governador Eduardo Campos. Todavia, Lupércio acredita que ser evangélico já o coloca à frente na disputa, porque gera uma identificação com o eleitorado.

Integrante da Assembleia de Deus do Recife, o deputado Presbítero Adalto Santos é parte do Projeto Cidadania, tocado pela própria igreja, que visa eleger um deputado estadual, um federal e um vereador no Recife. Nesse projeto, também participam o congressista Pastor Eurico e a vereadora do Recife, Irmã Aimée Carvalho (PSB). Adalto conta que esse mesmo projeto é responsável por eleger políticos em mais de 10 cidades do interior do Estado. “Há um vácuo muito grande de representação e podemos até ter candidato a governador, porque o nosso segmento é muito unido”, afirma o deputado.

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